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EVITE AS INTERPRETAÇÕES ERRADAS

Por que se mede a creatinina no plasma?

Em especial para detectar ou monitorar a insuficiência renal aguda ou crônica.

Qual o significado do aumento da creatinina no plasma?

Plasma ou concentração de creatinina no soro é geralmente interpretado somente do ponto de vista de eliminação renal, o que quer dizer, a creatinina no plasma aumenta quando a função renal diminui, mas (mesmo a uma freqüência menor), a hipercreatininemia pode também ser explicada como sendo:

Produção muscular elevada de creatinina, especialmente em raças de cães com grande massa muscular (tais como: boxers, galgos e cães para tração animal).

Redução no volume do fluído extracelular, por exemplo, a desidratação poderá aumentar a concentração de creatinina no plasma consideravelmente.

Absorção intestinal de creatinina exógena.

Quais são as condições analíticas favoráveis?

Soro versus plasma: As concentrações de creatinina são similares no soro e no plasma.

Armazenamento: A creatinina é estável a 20°C até 24 h no sangue sem anticoagulante e até 3 dias no plasma ou soro. A -20°C a estabilidade é excelente (pelo menos por 8 meses).

Interferências analíticas: a hemólise não tem efeito sobre a creatinina. Se a análise química for baseada na reação de Jaffé (ainda amplamente usada nos laboratórios para seres humanos, mas não na prática veterinária), as altas concentrações de bilirrubina, lipídios e glicose podem interferir na creatininemia e muitas vezes poderão levar a uma superavaliação dos valores de creatinina no plasma. Cefalosporinas podem aumentar os valores de creatinina no plasma determinados pelo método de Jaffé em até 50%.

Quais fatores psicológicos afetam a concentração de creatinina?

Idade: A creatininemia aumenta na fase de crescimento do filhote. No cão geriátrico saudável, a creatinina no plasma é semelhante à observada nos cães adultos jovens.

Peso corporal: Não há relacionamento claro aparente, mas muita massa muscular poderá explicar a concentração moderadamente elevada de creatinina no plasma. Por outro lado, a atrofia muscular na cachexia poderá diminuir os valores de creatinina no plasma.

Tempo de coleta: Não se conhece nenhuma variação na creatininemia nos cães no decorrer do dia (mas deve-se considerar possíveis efeitos por causa das refeições).

Exercício: O exercício pode aumentar a concentração de creatinina no plasma em galgos (em cerca de 20% em 60 minutos após o exercício), mas aparentemente o mesmo não ocorre nos cães usados para tração animal. Em termos práticos, pode-se colher amostra de cães não treinados imediatamente, ou mais tarde, após o exercício (mesmo se o exercício for vigoroso)

Alimentação: A ingestão de alimentos é causa potencial da variação de creatinina. O aumento de creatinina no plasma (em até 50%) pode ser observado de 1 a 4 horas após uma refeição, especialmente quando for servida comida cozida. Este aumento é explicado pela absorção intestinal de creatinina exógena proveniente da creatina muscular durante o cozimento. Por esse motivo, provavelmente prefere-se colher amostras de cães em jejum (de pelo menos de 8 a 10 horas).

A creatinina é sensível o bastante para detectar uma disfunção renal?

Enquanto a análise química da creatinina é útil, algumas limitações não devem ser esquecidas:

A conexão entre a creatinina e a GFR é curvilínea, significando que a GFR pode baixar rapidamente nos primeiros estágios de insuficiência renal sem aumentos importantes de creatinina no plasma ( ou variações somente dentro da linha de referência e, por esse motivo, é considerado potencialmente irrelevante clinicamente) e, ao contrário, a creatinina no plasma pode aumentar drasticamente nos estágios posteriores mesmo com modestos decréscimos na GFR.

A concentração de creatinina no plasma pode ser interpretada de duas maneiras diferentes:
1. Comparação de um único valor isolado de um determinado cão no intervalo de referência. Este modo é muitas vezes o único disponível, mas não é o ideal. Os intervalos de referência geralmente são definidos de maneira insuficiente com um número limitado de animais e podem variar bastante entre países a análises químicas. Nenhum ponto inicial de decisão pode, por esse motivo, ser transferido de um laboratório a outro, nem os valores publicados podem ser transferidos para uma determinada clínica, a não ser que as condições sejam rigorosamente as mesmas. A hipercreatininemia identificada a partir de uma única amostragem, não significa necessariamente que existe disfunção renal, mas certamente indica uma necessidade de se fazer outros exames (gravidade específica da urina, proteinúria, etc.) para melhor avaliar a função renal e a doença.
2. Comparação de um valor obtido em uma determinada época com um determinado cão com um outro valor obtido com o mesmo cão em uma época anterior. Se as condições forem padronizadas (mesma técnica, cão em jejum, etc.), é provavelmente a melhor maneira de se monitorar a função renal com o tempo. Um aumento ou diminuição de creatinina geralmente indica uma diminuição ou um aumento da função renal (mas deve-se levar em consideração os possíveis efeitos de redução de massa muscular na cachexia - já mencionados neste artigo). Este método é particularmente recomendado para animais com insuficiência renal identificada ou para detectar efeitos nefrotóxicos prematuros das drogas (mesmo se outros indicadores, tal como a enzimúria, possam ser considerados mais sensíveis). A determinação em jejum da concentração de creatinina no plasma provavelmente deveria fazer parte de todo programa de rotina de monitoramento de saúde do cão idoso.